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sábado, 29 de março de 2008

Macau, terra que já foi minha….

Tenho andado a navegar em alguns blogs, nomeadamente o Bairro do Oriente onde o tema Eu profeta me confesso está a ser bastante interessante e bastante discutido.

Claro que o tema Macau me interessa, pois foi a minha Terra desde que eu nasci e posso concluir que os portugueses que ainda aí residem sentem de alguma forma abandonados por Portugal, mas também não posso deixar de concordar com algumas opiniões que alguns anónimos aí deixaram que são mais realistas do que os portugueses que ainda lá vivem e que estão habituados a uma vida mais fácil e comodista.

Talvez necessitem mais de apoio “psicológico”, querem sentir que Portugal não os abandonara, querem uma identidade que vêm a desaparecer de dia para dia, talvez porque estão a viver numa terra emprestada que um dia já foi nossa e que hoje em dia não são mais do que estrangeiros.

Custa muito, eu sei, custou-me a mim também. Tenho saudades de Macau que deixei em 1997, de Macau da minha infância onde brincava sem perigos no meu bairro com os meus vizinhos, de Macau da minha adolescência aonde havia sítios para andarmos de bicicleta, de mota ou de juntarmos nas esplanadas em frente ao rio com a maior pacatez, da discoteca do Royal, do Green Parrot ou do Mikado e também de Macau onde nasceram os meus filhos e onde eles também deram os primeiros passos.

A certa altura Macau tornou-se muito pequeno, a vida era fácil, não tínhamos que fazer nada senão ir trabalhar, levar e buscar os filhos no infantário e tínhamos dinheiro para tudo. A vida era muito desinteressante, tínhamos sempre que sair do nosso território para fazermos alguma coisa de jeito e a coisa mais interessante que se fazia lá eram compras onde depois empilhávamos nos nossos pequenos apartamentos.

Os filhos começaram a crescer e comecei a ver que levavam uma vida diferente que a minha, pois não podiam ir brincar com os vizinhos, porque vivíamos em prédios, nuns apartamentos com as janelas todas vedadas com ferros para que as crianças não caíssem nem que os ´homens aranhas´ nos viessem visitar. Estavam limitados a quatro paredes e só aos fins de semana podiamos apanhar um pouco de sol preferencialmente nas ilhas. Decidi que era tempo de partir.

De Portugal só conhecia Lisboa, Algarve e uma das ilhas mas mesmo assim resolvi arriscar e talvez sejamos uns dos poucos que adaptámos mesmo ao nosso País às mil maravilhas.

Para Macau já voltei várias vezes, a ultima foi em 2007. Senti-me perdida na minha Terra, não consegui sentir ligação, fiquei de rastos…pois voltei para sentir o cheiro, sentir a comida que tanto desejava e claro tentar ver as pessoas que conhecia, os meus amigos, tantas desilusões…

Encontrei uma coisa que nada tinha a ver com a minha Terra, havia mar de gente em todo o lado mas tão poucas caras conhecidas. Detestei ver a Praia Grande, do Liceu até á Barra era onde passava todos os dias, já não tem nada haver com aquilo que era e nem podia acreditar que a zona com que mais identifiquei e me senti mais em casa foi a zona das ´3 luzes´ que dantes só visitava de quando em vez. Chineses nas lojas que me perguntavam com admiração como é que eu falava tão bem o cantonense, fiquei indignada, pensei para mim, isto nunca me aconteceu, estou na minha Terra, e essa gente nem sabem que os ´macaenses´ falam fluentemente o cantonense. Será que o pessoal que lá ficaram deixara de ir á rua? Que pergunta mais despropositada. A minha cara não mudou ou será que sim?

É triste mas é verdade. Macau continua a ter as suas particularidades, voltarei sempre para férias mas estou muito feliz onde estou, já não conseguiria viver em Macau. A vida aqui é real, há muito mais dificuldades, ninguém pode ser comodista e claro as revoltas e indignações também fazem parte mas não posso queixar que Portugal não me recebeu de braços abertos e que conquistei todas a oportunidades que apareceram.

Guardarei sempre no coração a vantagem de ter nascido em Macau e guardarei sempre no meu coração a minha Terra que um dia foi M A C A U.

1 comentário:

Anónimo disse...

Partilho da sua opinião e dos seus sentimentos.
O Macaense é por natureza saudosista por estar no meio de 2 nações.
Só que todos nós (e quanto mais idade, mais se pronuncia) somos o resultado do colonialismo.
Colonialismo não entendo como simples exploração, mas algo muito mais subtil que a todos nos afecta.
O anticomunismo primário.
Porque se tivessemos aprendido a escrever chinês no Liceu, já não sentiriamos deslocados a ver os caracteres chineses.
Só isso.
O resto, de ver muita gente e cheiro esquisito não passa do nosso preconceito burguês que tem a ver com a condição social das pessoas.
Se estivessemos ao pé de muitas pessoas mas com posse, perfume e cultura, já tanto fazia a sua raça ou proveniência...
Sugeria-lhe que visitasse o Link www.gentedemacau.com
Cumprimentos

 
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